Durante o evento CCXP 2018 (Comic Con Experience), realizado em São Paulo entre os dias 5 e 9 de dezembro de 2018, duas pessoas importantes do staff do anime Saintia Shô estiveram presente: Noriyo Sasaki, que está trabalhando como consultor da Toei Animation para manter o padrão da animação com relação a série clássica (vale lembrar que ele trabalhou também como desenhista e animador em diversas obras da série clássica e recentemente nas máquinas de Pachinko), e de Kaoru Okehara, o produtor de Saintia Shô. Tivemos a oportunidade de conversar bastante com os dois nos bastidores e fizemos uma entrevista também, mas desta mesclando com perguntas sobre trabalhos mais antigos, já que teríamos a oportunidade de focar bem mais em perguntas sobre Saintia Shô no painel oficial do anime que aconteceria (e aconteceu) no dia seguinte. Confira:
A entrevista foi realizada no dia 7 de dezembro de 2018
(por Eduardo Vilarinho, José Carlos Alves e João Fernando Guimarães)
Pergunta 1: O que foi determinante para a Toei Animation escolher Saintia Shô como a próxima série animada de Saint Seiya?
R (Okehara): Como produtor não posso afirmar, mas a equipe que trabalha com Saint Seiya entendeu que Saintia Shô era a melhor obra no momento, afinal eles poderiam trabalhar com a série clássica e acrescentar um novo tempero a todo o universo de Saint Seiya. Foi a melhor escolha!
Pergunta 2: Alma de Ouro foi anunciado em um certo dia e 6 meses depois já estava estreando. No caso de Saintia Shô, a estreia está acontecendo 2 anos após o anúncio do anime. O que esses 2 anos significaram na produção?
R (Okehara): Saintia Shô é uma obra para satisfazer o fãs antigos e os novos. Conseguir esse equilíbrio nestes dois estilos, demora, sendo assim, quando percebemos, já tinham se passado 2 anos desde o anúncio.
Pergunta 3: Conte-nos porque a Toei Animation optou pelo Estúdio Gonzo e não mais pelo Estúdio Bridge, que fez Ômega e Alma de Ouro?
R (Sasaki): Os Cavaleiros do Zodíaco é uma série que precisa de muita energia da Toei Animation para ser produzido. Sempre existe essa busca de montar a melhor equipe para poder fazer o melhor de cada obra. Cada obra tem suas características, então eles precisam montar uma equipe condizente com a obra específica. Poder trabalhar com um estúdio, um time de fora, traz boas influências para ambas as partes, sendo positivo para todos. Tanto Ômega quanto Soul of Gold, a melhor escolha naquela ocasião era o Estúdio Bridge. Agora é o Estúdio Gonzo.
Pergunta 4: Saintia Shô tem um estilo de traço que lembra o do saudoso Shingo Araki. Conte-nos mais a respeito.
R (Sasaki): Sobre o estilo Araki, o traço dele é muito estiloso, tem bastante força. Como estúdio, poder herdar este traço e poder adaptar aos novos tempos era uma coisa muito importante. Eu acho que o traço de Saint Seiya é o traço de Shingo Araki, são duas coisas que não conseguem se separar. Praticamente é uma opinião como fã. Na hora de produzir o novo anime, houve uma busca por um equilíbrio entre o traço da Chimaki Kuori e de Shingo Araki, foi um grande desafio, sendo importante para o universo da série.
Pergunta 5: Falando um pouco sobre o passado, como foi conviver com Shingo Araki? Como era trabalhar com ele?
R (Sasaki): Shingo Araki era uma pessoa bacana, gentil e alegre. Mostrava uma disposição, uma alegria em desenhar. Na Saga de Hades, quando ele gostava do resultado do desenho, ele pegava a bicicleta para ir até o estúdio encontrar a equipe e dizia: gente, olha o que eu consegui desenhar! Era uma pessoa que passava toda essa energia positiva, essa empolgação no desenho e no traço, que o "contaminou" e marcou toda a equipe.
Pergunta 6: Sasaki-san, o senhor trabalhou na Saga de Hades, considerada uma das mais queridas pelos fãs e marcou o retorno de Saint Seiya. Como foi para você voltar a trabalhar com Saint Seiya?
R (Sasaki): Voltar a produzir a Saga de Hades (depois do hiato) foi um momento onde acredito que toda a equipe sentiu o grande peso. Foi na mesma fase em que a digitalização começou a entrar forte na animação japonesa, foi uma fase de grande preocupação, empenho e esforço, de como aproveitar essa nova ferramenta e recriar o universo de Saint Seiya que eles conheciam. Fora esse aspecto técnico, na parte da Toei Animation como estúdio, mais de 10 anos foi tempo suficiente para toda a equipe se renovar. Muitas pessoas da antiga equipe que se envolveram na produção da série clássica já não estavam mais lá, não existia mais aquela equipe. Nos vimos surpreendidos, pois não tinha ninguém, naquele momento, na Toei Animation que pudesse reproduzir aquele traço do desenho antigo. Isso permitiu que toda a animação fosse encarregada pelo estúdio de Shingo Araki, um ponto positivo, mas que atrasou um pouco a produção e também atrasou a Toei Animation de criar uma nova equipe dentro do estúdio. Equipe esta que pudesse reproduzir aquele traço de Saint Seiya. Foi nessa extensão que levou a busca da Toei Animation por um traço não igual do Shingo, mas um novo traço que pudesse reproduzir o universo de Saint Seiya. Eu imagino que foi nessa evolução que surgiu Ômega e Soul of Gold. Me lembro de um detalhe bem pessoal: antes de trabalhar na Saga de Hades, eu trabalhava em outra série chamada Nono-chan, que tem um traço mais estiloso, com personagens em um traço mais bidimensional, uma comédia, lúdico. Quando voltei a trabalhar na Saga de Hades, percebi que não conseguia mais desenhar como antes.
Pergunta 7: Como foi o seu primeiro contato com Saint Seiya?
R (Sasaki): Eu já trabalhava quando a série clássica foi exibida. A equipe que estava produzindo Saint Seiya não era a minha equipe, mas eu ia visitá-los sempre, de tanto que chamou a minha atenção. Eu queria ver o trabalho deles. Toda vez que finalizavam um preview dentro do estúdio, eu acabava participando de cada sessão de preview e cada vez que eu reparava em alguma novidade, eu ia atrás de quem fez e perguntava se a pessoa podia mostrar mais material, explicar como ela fez aquilo. Foi uma obra muito marcante para mim profissionalmente falando.
R (Okehara): Saint Seiya foi produzido antes de eu nascer, mas pude sentir toda a paixão envolvida ali, o que me deixou impressionado. Não senti que fosse um trabalho tão antigo.
Pergunta 8: Gostaria de deixar algum recado para os fãs brasileiros?
R (Sasaki): Enquanto eu tiver força de vontade e força física, vou querer continuar me envolvendo na produção de Saint Seiya. Eu gosto muito. Trabalho com paixão nesta obra, portanto espero que os fãs continuem gostando deste universo. Se alguém do Brasil quiser trabalhar com Saint Seiya, por favor, fale comigo (risos).
R (Okehara): Dia 10 a série Saintia Shô começa a ser transmitida pelo Crunchyroll. Por favor, assistam! Muito obrigado!
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